domingo, 26 de maio de 2013

E mais histórias canadenses...

Oi gente, boa tarde!

Domingão preguiçoso por aqui, vai ser difícil tirar o pijama hoje, e a chuvinha lá fora não ajuda em nada no quesito animação. Parece que a Dona Primavera investiu toda sua energia para uma chegada em grande estilo e acabou tendo que tirar uma short term desability license para se recuperar e só se espera o sol e o calor novamente para julho.

A preguiça é grande porque trabalhei ontem, ou seja, tive só umas horinhas de sábado para descansar e não foram suficientes, é claro. Nada melhor que um domingo de preguiça seguido por uma segunda sem trabalho para a total recuperação. Foi assim:

Vcs lembram da Ana, né? Trabalho com ela duas vezes por semana, ela é síndica de dois dos prédios. Ela é a portuguesa gente fina que queria dar um jeito para eu parar de trabalhar e continuar recebendo salário :) Uma pessoa muito querida mas com uma vida de drama mexicano. Oficialmente casada com um iraniano bem filho da puta que descobriu um câncer de pulmão bem avançado quando eu comecei a trabalhar para o YWCA. O cara é um filho da puta, mas teve uma vida filha da puta, o que faz a gente ter uma certa simpatia por ele, tipo assim: ao menos ele não explodiu uma bomba matando mais cinqüenta crianças no cinema. Bem, esse cara morreu sábado passado. Então estou indo eu na terça passada para o trabalho (segunda foi feriado, 20 de Maio, dia da Rainha Victoria), sem nenhuma motivação, ou melhor, a única coisa que me fez realmente ir para o trabalho foi o fato de que rolaria um almoço de despedida para mim (já contei que páro de trabalhar essa semana? :) ) e para a Sandy, a síndica do prédio aqui de Coquitlam que pediu demissão para pegar um emprego bem mais legal no BC Housing. Achei que seria muito chato faltar em um almoço em minha homenagem e talvez ainda mais chato faltar no trabalho e ir só ao almoço :), mas estou eu saindo aqui de casa e recebo uma ligação dizendo que o almoço tinha sido cancelado, vibrei por uma fração de segundo, pois voltaria imediatamente para casa, mas aí veio o motivo: o marido da Ana tinha falecido. Para mim ele estava na Europa, para onde tinha ido visitar a família (todos fugidos do Irã e agora vivendo na Suíça, com o pai com o pé na cova) e a namorada alemã, sim, ele tinha uma namorada alemã desde sempre. Há duas semanas eu não encontrava com a Ana porque ela estava fazendo workshops do BC Housing, aqueles mesmos que eu fiz de eletricista, bombeiro etc. Mas o que aconteceu foi que o cara começou a passar mal lá e resolveu voltar para o Canadá para ver o médico, no sábado passou mal, foram para o hospital onde foi constatado que o câncer tinha tomado conta do corpo todo. O médico disse que não sabia por quanto tempo ele resistiria e ele morreu em 3 horas.

Tudo isso nos leva à nossa próxima primeira experiência canadense: um funeral. Foi na sexta, quase uma semana depois da morte, aqui é sempre assim, não sei exatamente o motivo, mas o corpo nunca é liberado imediatamente, mesmo o cara tendo morrido no hospital por motivo mais que conhecido e certificado. Tem que ter autópsia e tals. O funeral é igualzinho ao que vemos nos filmes. Uma capela bem bonita com o caixão lá no fundo e uma foto grande ao lado. Achei estranho que foi um padre católico que fez as honras, achei que ele era muçulmano, mas talvez essa tenha sido e pequena vingança da Ana para ele :) Da cerimônia vamos em cortejo para o lugar onde vão enterrar o caixão onde se alinham várias colunas de cadeiras. Mais umas palavras do padre e da família e somos convidados a voltar para a capela onde serão servidos refreshments, que é como eles chamam sucos, água e snacks (que por aqui são sempre doces). Uma dica para quem pretende ir a um funeral no Canadá: homens tem que estar de terno e gravata, tudo preto e mulheres de vestido e sapato pretos. Eu era a única de branco, ops, estava usando a única calça não de Yoga que tenho e uma bata branca. Pedro estava de azul marinho. Foi esquisito.

Semana passada descobri algo muito vancouverite :) Estava eu no trabalho em Kitsilano após o almoço, deitada num sofá do salão de festas curtindo toda a preguiça concentrada no meu corpo quando uma abelha entrou pela janela. Ela ficou lá como qualquer abelha indo de um lado para o outro procurando saída onde não existia. Meu primeiro impulso mental foi matá-la pois os canadenses tem verdadeiro terror a insetos e imaginei alguém entrando mais tarde lá e se deparando com aquela monstruosidade, mas a preguiça era tão, mas tão grande que deixei ela lá, se batendo de uma janela na outra. Quando tive que voltar ao trabalho, abri mais janelas para dar uma chance maior dela se mandar e fui embora. Entre as inúmeras vezes que precisei subir e descer pelas escadas do prédio encontrei um senhor muito simpático que me ofereceu ajuda para carregar as caixas que eu estava levando de um lugar para o outro e pouco tempo depois, estava eu instalando o ventilador em um dos aptos quando esse mesmo senhor apareceu com a Hiromi. Já contei que comunicação não é um dos pontos altos do lugar onde trabalho e depois daquele primeiro momento onde ninguém sabe de nada do que está acontecendo, seguido pelo momento que todos simplesmente resolvem ignorar o que esteja acontecendo porque dá muito trabalho perguntar, a Hiromi foi embora e o senhor ficou lá zanzando pelo apto. Aí ele veio me perguntar onde as abelhas estavam aparecendo, por qual janela estavam entrando. Eu, então, me apresentei a ele e disse que não morava ali e não sabia do que ele estava falando, mas contei que tinha visto uma abelha no salão de festas e tinha pensado em matá-la mas, menti, ela estava só pelo teto e era muito alto para eu alcançá-la. Ele então vira-se para mim com uma cara de terror: "Mas a senhora não pode matar abelhas em Vancouver, isso é crime! Punido com prisão! As abelhas são protegidas na cidade de Vancouver!" What? Eu queria muito rir e olhei para ele e disse: "Então quer dizer que corri o risco de ver meu filho nascer num presídio?" Não consegui segurar e estava meio rindo quando disse isso prá ele. Ele ficou sem graça, riu e disse: "Ainda bem que a senhora não matou, né? Eu já capturei a abelha que estava lá." Então fica o alerta, minha gente: nada de matar abelhas estando em Vancouver, ok?  Na dúvida, não matem nenhum inseto, chamem o especialista.

E prá terminar, a história mais aterrorizante: existe um coiote bem grande aqui pela vizinhança que está machucado e por isso não consegue caçar e então está atacando e matando cachorros. De dia e de noite. Ele, até o último relatório recebido, já matou três. Dois estavam sem a guia e ele simplesmente catou e levou embora, um terceiro que estava na guia, o dono consegui tomar dele e levar ao veterinário, mas o coiote ataca num lugar específico do pescoço que paralisa o animal e o cãozinho teve que ser sacrificado. Imagina o cagaço! Não saio mais com o Tuco. Não que eu saísse muito antes, mas agora é não mesmo! Imagina esse bicho me atacando e me derrubando e... tá doido! Ontem à noite o Pedro encontrou com um senhorzinho enquanto andava com o Tuco e alertou-o sobre o problema. O senhorzinho começou a chorar na mesma hora e contou que há 3 anos um coiote matou o outro cachorro que ele tinha e ele se sentia culpado porque viu o coiote se aproximando e o espantou duas vezes ao invés de pegar o cachorro no colo, por exemplo, e na terceira a proximação o coiote foi certeiro no pescoço e levou o cachorrinho embora. Ai que triste. O lado selvagem das terras do norte.

E gente, enfim chegou!! Minha última semana de trabalho! E melhor ainda: uma semana curta, com só 4 dias!! Uhuuu!! O almoço de despedida vai rolar na quarta. Fiquei mega surpresa quando falaram que estavam organizando um. Tirando a Ana e a Sandy, não imaginei que ninguém se importasse com minha gravidez na empresa, mas pelo jeito essas canadenses não têm o coração tão duro quanto eu pensei :) É claro que depois eu conto como foi.

Bj, bj a todos.

Gra

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