quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Food Bank

Oi gente! Por aqui tudo bem. Cheguei a sentir um calorzinho hoje na rua, apesar do dia nublado. Agora temos 3°C.

Hoje quando saí estava nevando, bem fraquinho, eles chamam de flurries, era para ser chuvinha, mas como a temperatura estava negativa (-5°C) a chuva é de mini gelinhos. Bem, a neve de hoje era o que eles dizem que é seca, e ela parece mesmo seca, parece polvilho grosso. É diferente daquela dos cristaizinhos lindos nas mais diversas formas de estrelinhas. Essa de hoje, além de não ser nada bonitinha, quase me proporcionou meu primeiro grande tombo na rua. Todos caem, já me disseram, mas continuo resistindo :) A neve estava fraquinha, mas foi o suficiente para camuflar aquelas "pistas de patinação" que comentei no post passado e eu quase, mas quaaaaaaaaaaaaaaaaaase mesmo fui ao chão logo pela manhã. Foi bom para acordar :) Essa neve de hoje é do tipo sem-gracinha, mas tem uma bondade, ela cai pesada para o chão, não é como a outra que parece vir de todos os lados, inclusive de baixo, e entra pelo nariz e vai no olho... é lindinha, mas safadinha :)

Hoje conheci um serviço que, embora eu tenha ficado espantada com a eficiência e a qualidade, me deixou bem deprimida também... Já ouviram falar de Food Bank? Então... umas brasileiras que conheci aqui me falaram e eu fiquei curiosa para conhecer. São lugares que distribuem comida para as pessoas "carentes" ou nem tanto ou que simplesmente queiram ir lá pegar comida (foi isso que me deixou mais curiosa). Hoje, na hora do almoço, descobri que tem um aqui muito próximo de casa e eu fui lá conhecer. As meninas tinham me falado que, como tudo por aqui, existiria um específico para eu ir (eles dividem tudo em áreas e determinam quais locais fornecerão os diversos tipos de serviços). Elas disseram que foram algumas vezes, mas não se sentiram muito bem por vários motivos: tem gente realmente muito carente lá; tem gente nada carente lá; enfim, eu entendi bem isso hoje.

O lugar é bem grande e o tempo todo chegam caminhões dos mais diversos supermercados e indústrias alimentícias. As empresas aqui tem o compromisso de doar x % do que produzem ou vendem para estas instituições, então não tem nada daquilo de comida quase vencendo ou produtos que não são aceitos pelo mercado, é tudo de alta qualidade.

Well, cheguei lá e logo senti o clima de depressão geral. Minha desculpa era perguntar que tipo de serviços prestavam ali e se havia algum tipo de cadastro e se eu deveria trazer alguma documentação e tals, eu queria conhecer o lugar, ver como funciona e se também funciona, como todas os outros serviços que já utilizei aqui. Queria saber se lembrava qualquer coisa que eu já tinha visto no Brasil, enfim, eu não estava acreditando que poderia funcionar tão bem e que fosse só chegar e pedir e tals... a conclusão que cheguei é que muita gente fica com vergonha de pedir a comida e deve ir lá com o mesmo papo furado que eu fui e eles sacam o papo furado e aí vc não consegue mais sair de lá sem nenhum atendimento. Foi o que aconteceu comigo. Uma senhorinha chamada Elizabeth (estas me perseguem!!) pelo jeito foi muito com a minha cara, e eu não devia estar com uma cara muito boa porque sem que eu dissesse muita coisa ela começou a me oferecer um monte de coisas e comida e atendimento médico e auxílio legal e eu dizia que eu estava bem, que só queria conhecer o lugar e ela dava um risinho cheio de compaixão e continuava me empurrando para o atendimento e pronto, lá estava eu naquele "supermercado" onde vc pode escolher tudo o que quiser e sair sem pagar. Fiquei impressionada. Ela começou a me levar pelas prateleiras perguntando o que eu queria e eu dizia que não queria nada, que nem tinha sacola para carregar nada (todos lá estavam super-equipados com sacolas, carrinhos de todos os tipos, malas de rodinha etc.), ela correu num canto e me trouxe uma sacola  e começou a colocar chocolate e se desculpar por ter acabado os biscoitos, pois a empresa não tinha entregado ainda o carregamento da semana, e aí ela foi pegando barrinhas de cereais e perguntando o que eu queria. Aí já estávamos nos enlatados e eu dizia que não queria e ela dizia que eu estava aqui a muito pouco tempo, então eu não conhecia os enlatados, então ela ia escolher para mim :) Bem, resumo da ópera, voltei para casa com o equivalente ao meu mercado de duas semanas (eles perguntam quantas pessoas moram na casa e aí vc pega o equivalente ao número de pessoas, algumas famílias lá saíam com o equivalente a um carrinho cheio de mercado e quando estavam com crianças, então...). Só produtos de marcas famosas, coisas que nem tenho comprado, pois compro no NoFrills o mercado mais próximo, que vende produtos sem marca :)

Conclusão: foi legal ver que realmente as coisas funcionam aqui. Dá raiva ver um monte de gente que não precisaria estar lá sair carregado de compras (como eu!), mas o legal é ver que mesmo tendo tanta gente que não precisa pegando, tem para todos os que precisam também! E o que mais me impressionou é que eles pedem alguns documentos, como comprovante de residência e tals, mas fica muito claro que é só para uma questão de estatística, eles não pedem que vc prove nada, eles não querem que vc se sinta humilhado por precisar de ajuda, então não ficam querendo que vc prove quão miserável vc é para ter que pedir comida... ao mesmo tempo, fiquei muito deprimida de ver que realmente existem pessoas precisando desse serviço, e digo isso não por achar que aqui não existem pobres, mas fica muito claro que as pessoas não procuram melhorar já que o governo dá tudo o que eles precisam. É deprimente para mim ver todos aqueles homens (eram maioria absoluta) fortes, saudáveis, comentando sobre tudo que o governo dá para eles e que não precisam voltar a trabalhar e que é a crise e que o que pegam ali não é bom o suficiente para eles e que (que horror!) eles têm que ficar quase 30 minutos ali esperando a vez deles!!!

Seguindo essa linha de raciocínio, acho que ainda não falei aqui sobre a licença maternidade. Resumidamente (sim, sei tudo sobre isso porque uma certa amiga chamada Adriana está pensando seriamente em ligar para a cegonha :) ), a mulher tem direito a um ano de licença, recebendo o equivalente a 55% do que recebia. Achei pouco receber 55%. Não sei exatamente como é no Brasil, mas fiquei imaginando que se a principal renda for a da mulher, um bebê não combina com redução da renda pela metade... mas, enfim, "it is what it is" (uma expressão totalmente derrotista que adoram usar aqui). Perguntei para a Adri se a mulher poderia trabalhar, tipo meio período, para incrementar a renda e ela disse que, oficialmente, só se for para ganhar até C$50 por semana... ou seja, se vai trabalhar, vai ser "extra" oficialmente, mas aí a Adri virou-se rindo para mim e disse: "Grá, vc acha mesmo que uma canadense vai se coçar para arrumar outro trabalho sendo que o governo vai dar tudo que ela possa vir a precisar?" Caraca!! E é isso mesmo!! Essa conversa com a Adri foi logo que cheguei e agora, quase um mês depois, estou totalmente convencida que é isso mesmo, e é por isso que eles querem tantos imigrantes! Em várias publicações vi comentários sobre como os imigrantes são bem vindos porque, estatisticamente, são os que menos se utilizem de serviços do governo como previdência, auxílio moradia  etc. Menos de 10% dos imigrantes acabam vivendo pendurados no governo canadense, enquanto mais de 30% dos canadenses vivem assim. "It is what it is".

Estou quase atrasada para ir encontrar a Adri para nosso chá semanal :)

Bjs, bjs, para todos. Muitas saudades.

Gra

Um comentário:

Ka Ma disse...

Puxa, não consigo imaginar esse tipo de ajuda por aqui! Q coisa louca! Se não fosse vc a me contar isso, não acreditaria!