quinta-feira, 29 de março de 2012

Dia difícil...

Oi gente, boa noite!

Por aqui chove... como diz o radialista: "Chove em Vancouver. Ah, sim, a primavera chegou!" :)

Hoje o dia foi meio triste para mim. Não, não aconteceu nada ruim com ninguém por aqui, pelo menos não com alguém que eu conheço.

Cheguei no trabalho hoje (no prédio de Kitsilano, a residência provisória para mulheres sob ameaça ou sofreram violência) e a "síndica" (Hiromi) e uma outra funcionária que faz trabalho social (Sandy) estavam em uma unidade do térreo que parecia ter sido invadida por um furacão, estavam começando a organizar as coisas. A moradora saiu fugida de madrugada e abandonou tudo. Ela tem uma filhinha de uns 3 ou 4 anos e pelo jeito é adicta a drogas prescritas.

A casa era uma imensa profusão de roupas de criança e de mulher e brinquedos e utensílios domésticos e sujeira e comida, uma loucura. Ela foi embora sem levar nada, nada mesmo, apenas a criança. Eu não quis perguntar, mas entendi pelas conversas da Hiromi com a Sandy que ela estava fugindo de algo/alguém.

A função das duas, Hiromi e Sandy, era organizar/limpar tudo para a próxima mulher que irá ocupar a unidade. Eu ofereci para ajudar, elas não queriam, disseram que não fazia parte do meu trabalho, mas eu insisti e elas agradeceram. A ordem era jogar tudo fora. TUDO.

Acho que eu nunca fiz algo tão triste, ensacar tudo o que eu encontrava para jogar fora. Eu não sei exatamente porque tinha que jogar tudo fora, tinha tanta coisa boa, tantas roupinhas da menina, brinquedos... muitos aparelhos eletrônicos, celulares, ipod... convenci a Sandy a guardar as coisas mais caras para caso ela fizesse contato e precisasse de algo. O apto tem apenas 1 quarto, mas foram mais de 30 sacos grandes de tudo quanto é coisa... cada peça de criança que eu pegava eu ficava mais triste... que tipo de vida essa menina leva? Que tipo de casa é aquela para uma menina viver? Que vida essa menina vai ter?

Fiquei lembrando de mim empacotando nossas coisas para vir para o Canadá. Tanto cuidado com tudo, separando, guardando, doando, vendendo, guardando novamente :) Tudo o que temos conta nossa história. Não sou a mais materialista das pessoas, na verdade sempre me desfaço de coisas com muita facilidade, mas tenho meus apegos, peças que contam a minha história e que gosto que estejam por perto. Como é viver deixando tudo mesmo prá trás de tempos em tempos?

Quando eu já estava me recuperando da tristeza, vendo o apto limpo e arrumado mais para o final do dia, as mulheres das outras unidades começaram a chegar do trabalho, eu fiquei ainda mais chocada, ninguém perguntava o que tinha acontecido, para onde ela teria ido, se estaria bem... elas queriam fuçar as coisas e pegar qualquer coisa de valor que encontrassem. As coisinhas da menina não tinham valor nenhum para elas, nem davam bola... fiquei tão chocada! Enfim...

Quando eu comecei a trabalhar lá, ainda fazendo o estágio, o Pedro estava preocupado com o ambiente dos prédios, se não seria meio pesado estar no meio de mulheres com tantos problemas. Eu nunca tinha passado por nenhuma situação ruim, muito pelo contrário, elas sempre foram super receptivas comigo, sempre muito simpáticas. Eu gosto de trabalhar sentindo que estou realmente ajudando e sempre tive essa sensação por lá, mas uma hora algo assim iria acontecer... é como andar de moto, uma hora vc vai cair, aí só resta a vc torcer para cair no inverno, quando estiver com roupas reforçadas :)

No meio da arrumação eu não me contive e perguntei para Hiromi e Sandy como era possível uma mulher alojada lá ter tantas coisas e tantas coisas caras e novas (afinal, elas vão para lá procurando auxílio e precisando de abrigo), e elas disseram que é muito comum mulheres ricas acabarem lá depois de uma separação violenta, então elas tem muitas coisas da vida anterior que levavam e ficam sem nada com a separação e a violência e acabam buscando ajuda lá... quanto mais eu pergunto, mais eu fico sem entender nada... como a vida é complicada! Ou como minha vida é monótona e previsível! :)

É isso gente, como previsto nem tudo são flores...

Bj, bj a todos e tenham um ótimo final de semana.

Gra

4 comentários:

Ka Ma disse...

Ai, é horrível isso... Muito triste. Cada um de nós vive numa realidade e quando nos deparamos com outras desse tipo ficamos sem saber o que pensar... :(

Unknown disse...

Olá,

Fiz o comentário no seu último post. Não estamos(eu e minha esposa) no Canadá, ainda. Achei que havia postado com minha conta do google. Toda semana leio em um ou outro jornal do Canadá matérias sobre os trades \ skilled Workers, da necessidade da mão de obra mas por outro lado, leio a respeito da dificuldade do trabalho para os imigrantes. Você não viu nada a respeito dos apprenticeships? Também acho muito triste a degradação familiar pelas drogas. Um problema que não tem divisas pois, no Brasil, também, não fazem distinção da classe social. Tenham uma ótima semana. Abraço!

Gra e Pedro no Canadá disse...

Elton, não consegui achar seu email. Escreve direto prá mim que te explico como funciona o apprenticeship. Abraço.

Anônimo disse...

Realmente minha filha, existem situações que a gente pensa que só acontecem em novela ou cinema, mas o futuro a Deus pertence, beijos Mã.