segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Ano novo e como não projetar (para arquitetos)

Olha eu aqui novamente! :)

Ontem, antes de dormir, lembrei de outro assunto que esqueci de comentar... o ano novo...

Quando eu estava me recuperando da cirurgia, conversei com minha cunhada do coração (me desculpem as outras, mas não tem como negar), Laura, e eu disse prá ela: "Não vejo a hora desse ano acabar! Ou eu acabo com ele ou ele acaba comigo!" Ela então me deu uma idéia, nessa mesma época (há um mês mais ou menos) tinha acabado de acontecer a comemoração do ano novo judaico, eu, então, poderia me converter ao judaísmo e então já estaria num ano novo! Achei a idéia muito boa, mas acabei não colocando em prática, até porque meu conhecimentos religiosos são escassos e não conheço nenhum judeu a quem recorrer...

Mas na semana passada, mais precisamente na sexta-feira, estava eu trabalhando em Kitsilano, quando uma das moradoras veio me convidar para a festa do ano novo muçulmano! Ela e as filhas e netos vieram da Somália e são todos muçulmanos, moram aqui no Canadá há poucos meses e estavam preparando um almoço especial para todos os moradores do prédio e gostariam que eu também participasse. Contei a ela a conversa que tive com minha cunhada e ela disse: "Ótimo, então! Celebraremos um ano novo especial para vc!" :) Ela soube de tudo o que aconteceu comigo recentemente e sempre foi muito querida me dando muita força, foi até um susto no dia que retomei o trabalho depois de tudo e ao me ver ela veio me abraçar, afinal, abraços não são comuns para eles.

A melhor parte: além da comida estar muito boa, durante o almoço lembrei que fui convertida muçulmana quando estive no Marrocos! :) Pouca gente sabe disso mas, depois de passar uns mal bocados em Fez, estava eu num trem indo para Casablanca para adiantar minha volta a Portugal quando conheci uma mulher, Zineb, hoje minha melhor amiga da África :) Ela me convidou para ir na casa dela comer cuzcuz marroquino e eu aceitei e fui "adotada" pela família onde acabei ficando hospedada durante o final de semana. Nesse período, aprendi a usar o lenço cobrindo minha cabeça e o pai da Zineb achou que eu tinha tudo para ser muçulmana e perguntou se eu queria me converter, na brincadeira eu aceitei e ele me fez repetir uma oração, tipo de batismo, e assim eu fiz e no final ele me decretou muçulmana :) Estou, portanto, vivendo meu ano novo muçulmano, no século 14.

Mais um lado bom em morar em um país multicultural :)

A partir de agora acho que esse texto só vai interessar para meus colegar arquitetos. Aviso dado.

Hoje, depois de meses solicitando, recebi a visita do que seria o chefe da manutenção dos edifícios da YWCA (de todos os prédios, incluindo os de escritório e os hotéis) para me explicar o funcionamento dos sistemas de aquecimento (ar e água), ar-condicionado e de alarme de incêndio do prédio de Surrey, que foi entregue em março desse ano e é totalmente computadorizado. Uma das minhas perguntas era como controlar a temperatura da água pois, desde a semana passada, as moradoras começaram a reclamar que a água estava mais fria, o que eu associei com a queda da temperatura geral. Eu já tinha tido esta explicação no prédio também novo aqui de Coquitlam, mas os sistemas são diferentes.

Chegando no telhado, verifiquei que as placas solares de aquecimentos eram diferentes. Em Coquitlam temos painéis fotovoltaicos (aquelas caixas pretas) e em Surrey os painéis são formados por inúmeros tubos de vidro com um recheio azul, que não consigo encontrar o nome, no google só aparece a opção da caixa preta.

Bem, os dois prédios têm certificação LEED, e com isso muitos sistemas novos que ninguém sabe como funcionam, mas que a YWCA fez questão de ter para entrar na onda moderninha de preservação do meio ambiente.

Muito bem, depois de fazermos a inspeção técnica de todos os ítens dos manuais, a pergunta que não queria calar: como regular a temperatura? E a resposta: o prédio em Surrey possui APENAS o sistema de aquecimento pelas placas solares e não há como manter a temperatura da água sem a presença do sol e de altas temperaturas. O equipamento pára absolutamente de funcionar com temperaturas de -5C, o que, cá entre nós, não é algo incomum por aqui, sendo que até chegar a essa temperatura negativa o painel vai aquecendo cada vez menos a água, por não conseguir captar energia suficiente para isso. Não há um plano B!

Eu sempre suspeitei que aquele prédio tinha sido projetado por estagiários! :) São tantas deficiências de projeto que nem vale a pena eu listar aqui, mas daí a construírem, no Canadá, um projeto feito para o nordeste brasileiro... Que porra é essa, arquiteto!

Teremos 36 famílias vivendo em um prédio sem aquecimento de água nesse inverno! Que tal? É por isso que eu digo, idiota é o tipo de coisa que tem em qualquer lugar do mundo! Um prédio que poderia ter sido contruído por $8 milhões e custou $20, agora vai ter que parir um sistema de aquecimento de água ainda este mês. Desses 20 milhões, pelo menos metade é dinheiro público (que é doado para a organização sem fins lucrativos). Durma com um barulho desses!

Detalhe: a mesma empresa foi contratada para construir um novo prédio para a organização. As obras começam em janeiro.

Abraço a todos e tenham uma ótima semana! A minha começou bem.

Gra

Um comentário:

David & Marcela disse...

Gra! Só você mesmo para se converter assim, esquecer e retornar para o século 14! Adorei! Tenho uma amiga do passado! Beijos! PS: Não sou arquiteta mas gostei do episódio do aquecedor... lamentável...