Ano do dragão?

Oi todo mundo! Have a good one!


Feliz ano novo! Feliz ano novo chinês! :) É o ano do dragão e eu que não sou nada superticiosa e nunca leio horóscopo, mas sendo do signo de dragão, sou dragão até morrer! E tenho muita fé de que sendo do signo do dragão, morando no rabo do dragão, no ano do dragão, esse ano vai ser o bicho! :)

Sábado fomos ao mercado chinês aqui do lado e o caixa/gerente/proprietário ficou feliz da vida quando perguntei do ano novo. No shopping tinha um monte de cartazes falando da festa de comemoração que aconteceria no domingo. Domingo fomos lá e todas as lojas estavam abertas e nada de festa... acho que os chineses chegaram à conclusão de que tinha cliente demais no shopping para desperdiçar comemorando e resolveram ficar nas lojas vendendo :) Filosofia milenar chinesa!

Minha mais nova melhor amiga de infância coreana, a Kissok, já tinha me falado tudo sobre o ano novo chinês na semana passada. Ela disse que na Coréia do Sul segue-se muito a cultura chinesa, e essa é uma das grandes festas do país. A Kissok tem dois filhos já adultos, e, segundo ela, os dois são do signo de dragão também, um é "dragão negro" e o outro "dragões gêmeos", não me perguntem como ela chegou nessas classificações! Perguntem para a Ka Ma! :) Mas o fato é que ela falou que nos anos do dragão a taxa de natalidade na Coréia do Sul cresce absurdamente, todos querem ter filhos sob o signo de dragão. É tanta gente nascendo por dia que há boletins diários na televisão relatando o número de nascimentos, os hospitais funcionam a todo vapor dia e noite com equipes multiplicadas para servir a demanda. Coisa de louco, ou melhor, coisa de chinês! :)

Eu não gosto de misturar assuntos, mas ando preguiçosa para começar a escrever e tem um outro assunto que eu gostaria de comentar aqui, já que é um fato que acho bastante interessante e demonstra bem um outro aspecto da cultura canadense bem diferente da brasileira.

Eu percebi essa diferença principalmente aqui em Vancouver, acho que não tive tempo suficiente em Toronto para notar. Resumidamente é o seguinte: aqui, a chance de vc ter um chefe com muito menos instrução formal do que vc é muito grande, o que acaba tornando perigoso revelar seu grau de escolaridade porque, mesmo com o discurso de não se valorizar o título, mas a experiência, é difícil para um chefe/superior lidar com o fato/medo do "colega" com título.

Isso até pode acontecer no Brasil se vc trabalhar para um empresa familiar, mas dificilmente vai acontecer numa empresa mais estruturada. Os mais novos até podem ter mais MBAs, mas os chefes sempre terão um curso superior, pelo menos.

Segundo minha professora camarada, Arleen, esse fato se dá porque há muitos anos atrás aconteceu aqui no Canadá o que vemos hoje no Brasil, o surgimento de um sem número de faculdades particulares no padrão pagou-levou. Começaram a constatar que o título muitas vezes não significava nenhum conhecimento, então passaram a dar mais valor à experiência e ao conhecimento prático ao invés do título. Aqui, mesmo as faculdades públicas são pagas, e caras, o que limita muito o acesso. Com a perda de importância no título, as pessoas simplesmente pararam de cursar faculdades/universidades e hoje é comum pessoas ocupando altos cargos sem um título de graduação.

Agora vamos às minhas experiências: a primeira vez que me deparei com isso, fiquei meio sem reação e demorei a digerir/entender, foi na Associação de Construtores de British Columbia. Fui participar de uma info session sobre uma das áreas de trade, que é como chamam profissões como carpinteiro, eletricista, bombeiro hidráulico, etc., ou seja, as profissões de mão na massa, que é o que quero fazer aqui. Após a sessão, fui falar com o palestrante, que se apresentou como o diretor da associação, com muuuuitos anos de atuação como soldador de grandes máquinas (que não sei dizer quais são exatamente). Fui me apresentar, e como de praxe por aqui, vc se apresenta dizendo sua área de atuação, então lá fui eu: "Olá, meu nome é Graciana, sou uma arquiteta brasileira, acabei de me mudar para Coquitlam..." e ele me interrompeu: "O que mais conheço é arquiteto desempregado por aqui, posso, agora mesmo, te dar o nome de uns cinco." Ok. "Pois é, seu fulano, é por isso que quero ingressar no ramo de trade, não quero atuar como arquiteta." E ele: "Mas por quê? Vc é arquiteta! Por que seria uma carpinteira?" Entenderam? Pois é, no inicio eu também não...

Essa semana, pela primeira vez na minha vida, fui chamada à sala da diretora! Por sorte a diretora é a professora Arleen, que vai muito com a minha cara! E por que fui chamada? Porque a outra professora, que é uma jounrneywoman, quase como uma graduação em trade, algo como ser engenheiro, mas em trade, o que diga-se de passagem é o que estou procurando me tornar, porque eu fiz uma brincadeira com minha colega de classe quando olhávamos as ferramentas que ela apresentava para a turma (já disse que na turma tem gente de tudo quanto é jeito, né? E muitas nunca tinham visto um serrote, por exemplo), a professora Kate achou que eu não estava interessada em absoluto no conteúdo do programa e pediu para a diretora conversar comigo porque ela achava que eu não queria mais estar no programa... ok.

É claro que tomei um susto e claro que a Arleen riu de toda a situação junto comigo e me disse no final da conversa: "Ela está com inveja de vc por causa do seu título, ela pensa que vc vai usar isso para rebaixá-la a qualquer momento." Isso é bem a minha cara mesmo! E logo eu, que estou sempre cheia de perguntas, até por conta do vocabulário do curso!

Outro fato interessante: perguntei para a Leandra, em Toronto, qual seria o salário inicial de alguém na nossa condição, ou seja, arquitetas, mas sem o diploma reconhecido aqui. Ela me disse que segundo a associação dos arquitetos, variaria de $15 a $25. Para o emprego que comentei aqui com vcs (absolutamente sem nenhum requisito de graduação, só experiência), o salário inicial é de $24 (aqui se fala o salário por hora). Um outro arquiteto brasileiro que conheço de Toronto ganhava $18, e olha que ele tinha quase 20 anos de experiência no Brasil!

Falando novamente do emprego que comentei, ainda não rolou. O que está certo é que farei meu practicum lá, ou seja, meu estágio pós programa, o que é um grande negócio, já me colocando dentro da empresa! Vamos torcer, minha gente! :)

Caraca! Esse post ficou muito grande! :)

Feliz ano do dragão prá todo mundo e até a próxima!

Graciana